Fundos de Pensão: futuro amargo
Hélio Duque
Administrar
um fundo de pensão é muito diferente de administrar um fundo de investimento.
Enquanto este tem por objetivo estratégico maximizar a sua rentabilidade, o
fundo de pensão deve buscar a consolidação das obrigações legais garantidoras
do pagamento das aposentadorias e pensões dos seus integrantes. Isso não é
fator impeditivo de os seus gestores buscarem aplicações nos fundos de
investimento, com responsabilidade e espartana disciplina, objetivando rentabilidade
para o atendimento dos compromissos futuros demandados pelos seus associados.
Buscar ativos financeiros seguros e rentáveis é da sua essência. O fundo de
pensão, ao captar recursos dos participantes e das empresas onde prestam
serviços, passa a acumular considerável valor monetário que ao longo do tempo
formatará notável patrimônio.
No
Brasil, a poupança voluntária, administrada pelos fundos de pensão, é
instrumento para o desenvolvimento. A poupança interna brasileira tem, na
riqueza gerada dos seus assalariados de classe média e trabalhadores, poderoso
instrumento na maximização da prosperidade em algumas das maiores empresas e
empreendimentos na economia brasileira. O fator segurança nesses investimentos
decorre do fato da visão de longo prazo para o seu fluxo de caixa em um
universo temporal de 35 a 50 anos. Essa longevidade é decorrente do tempo
futuro de vida dos seus membros. No curto prazo, o gestor do fundo deve ter
disponibilidade de recursos para atender as necessidades decorrentes dos
pagamentos dos seus aposentados e pensionistas.
Existem,
no Brasil, 278 fundos de pensão públicos e privados. Os dez maiores são
vinculados a empresas estatais e representam 53% do total do patrimônio e real
capacidade de investimento. O grande patrimônio formado pela poupança
voluntária de milhões de trabalhadores não pode ser administrado ignorando os
critérios de competência técnica. Com a chegada do PT ao poder o ativismo
sindical, originário do Sindicato dos Bancários de São Paulo, a competência técnica
foi substituída pelos sindicalistas-gestores. Transformaram-se em instrumento
de governo, patrocinando investimentos nada ortodoxos, estuprando a Previdência
Complementar. O grande teórico do modelo foi o falecido sindicalista Luiz
Gushiken, ex-deputado federal e ex-presidente do sindicato paulista ao ser
nomeado chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
O sindicalista Ricardo Berzoini ocuparia o Ministério da Previdência, enquanto
João Vaccari Neto assumia a presidência do Sindicato em São Paulo.
O
aparelhamento nominal dos Fundos se daria com a ida dos sindicalistas Sérgio
Rosa para a direção da Previ, do Banco do Brasil; Wagner Pinheiro para o
Petros, da Petrobrás; e Guilherme Lacerda para o Funcef, da Caixa Econômica. A
ocupação dos fundos de outras estatais seguiria a mesma filosofia. Todos
vinculados à CUT (Central Única dos Trabalhadores). Agora, em 2015, a conta do
aparelhamento se expressa nos prejuízos causados pelas operações temerárias e
perdas de bilhões de reais, provocados por incompetência generalizada. No ano
passado, o acumulo de déficits, destacadamente, na Previ, Petros e Funcef
atingiu R$ 77,8 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Previdência
Privada. Confirmado pela Superintendência de Previdência Complementar (Previc)
considerada o grande xerife do setor. Nos outros fundos de pensão o cenário não
é diferente, afetando o futuro tranquilo de mais de 500 mil aposentados e
pensionistas.
O caso
mais dramático e chocante ocorreu no Fundo Postalis, dos Correios, que afetará
a vida de 100 mil trabalhadores da ativa e aposentados. O “déficit” de R$ 5,6
bilhões será arcado por 71 mil trabalhadores da ativa e por 30 mil aposentados.
De maneira injusta e cruel, pagarão por um período de 23 anos, a partir de maio,
279 meses até o ano de 2039, o déficit milionário gerado por corrupção e
administração temerária. Terão descontados do salário 17,92%, mensalmente,
desfalcando o orçamento de dezenas de famílias. A medida injusta foi aprovada
pelo Conselho de Administração dos Correios. A dilapidação patrimonial do Fundo
será paga pelos próprios funcionários.
A tomada
de assalto dos Fundos de Pensão, pela ortodoxia dos sindicalistas-gestores
objetivando o chamado projeto hegemônico de poder fez dos trabalhadores a
grande vítima. O irônico da história: nas próximas duas décadas, os associados
dos Fundos vinculados às empresas estatais serão obrigados a aportar recursos de
maneira compulsória pelo desconto de salários. A desestruturação da previdência
complementar no presente e no futuro tem um só responsável: os
sindicalistas-gestores.
Helio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É
autor de vários livros sobre a economia brasileira.
Foi desviado para o PT. Um bom advogado (ou mais) pode ter ganho de causa. Porque não entraram com processo ainda?
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